terça-feira, 31 de julho de 2012

XII

Os caminhos do ka muitas vezes não são claros, porém, é uma tremenda insanidade agir como se nenhuma força invisível trilhasse nosso destino e ir constantemente contra aquilo para o que fomos designados. Há pouco mais de um ano eu relia Mago e Vidro, aguardando ansiosamente por ganhar o sétimo e derradeiro volume d’A Torre. Este livro, o quarto volume, me fez rir e sorrir linha após linha, principalmente nos momentos em que a fala pertencia ao adorável Cuthbert Allgood. Neste período, meu amor platônico me levou a esboçar uma história na qual haveria uma garota – uma garota pistoleira – que hipoteticamente começaria um romance com o garoto. Não venham me falar sobre spoiler! Quem nunca imaginou que Merry Smithson poderia terminar junto com Cuthbert? E tem mais, eu realmente não sei se eles ficarão juntos! A história não está tão completa assim. Acho que isso é algo inerente a este universo; sintonizo minhas antenas na ves-ka Gan FM e somente permito que meus dedos deem voz ao que minha mente capta.
Sem mais delongas, peço a atenção de vocês neste momento, pois agora, um ano e três dias após esta fan fic ter início, eu lhes trago o capítulo final deste primeiro livro. Infelizmente, eu não sei se continuarei a história futuramente pois, como foi dito no início, as intenções do ka não devem ser contrariados.
Eu tenho o segundo semestre do meu TFG de Arquitetura e Urbanismo (é verdade) e estou com uma banda de som autoral, na qual devo tocar guitarra como sempre e cantar (como nunca). Começarei a correr atrás dos tramites para publicar o meu livro, também, o que talvez me ocupe um bom tempo quando acontecer.
Nesta curta estrada de um ano (mas com um valor sem tamanho para mim) passei por diversas cidades, me envolvi em diversos tiroteios, matei um monte de vagos mutantes e conheci habitantes das mais diversas cidades do Arco Exterior. Tive a honra de ter minha fan fic publicada pelo Projeto 19 e pelo Stephen King BR. Foi por causa da fan fic que eu ganhei a primeira edição do oitavo volume da série, The Wind Through the Keyhole!
Tem sido um caminho repleto de obstáculos mas muito gratificante. Pode parecer babaquice tudo o que estou dizendo, mas escrever sobre A Torre completa o que eu quis dizer neste post, Estranhamente Familiar, em meu Blog pessoal (que também encerro hoje).
O ka me levou até uma bifurcação na estrada e, agora, devo fazer uma escolha e seguir adiante. É possível que daqui algumas milhas os caminhos voltem a se cruzar e eu retome as linhas da vida turbulenta de Merry Allice Smithson mas, infelizmente, hoje eu lhes trago o último post.
Obrigada pela companhia. Foi um prazer e uma honra. Ié, assim é. Vou tomar mais uma graf e retomar o caminho enquanto o sol se põe e as sombras se esticam pelo chão.

Longos dias e belas noites.

O Último Dia em Nova Canaã

- Venha cá, gusana. – Escutou a voz de Cort, assim que abriu a porta da casa para entrar.
- Cort? – Perguntou. – Onde está? – Estava tudo escuro, sem velas ou lampiões, e ela não sabia de onde a voz lhe chamava.
- Estou aqui, no seu quarto.
Ela se dirigiu até o quarto no qual passara tantas noites após os longos dias de treinamento, e encontrou Cort sentado na cama de Aileen. Só que a garota não estava lá. Um brilho de lua cheia entrava pela janela quadrada e alta e pelos vãos entre as tábuas transformando o chão em uma obra de arte abstrata.
- Sente-se. – Pediu ele, em voz baixa. – Preciso conversar com você.
 - Onde está Aileen? – Perguntou ela, sentando-se em sua própria cama, de frente para o homem grande e cheio de cicatrizes. Estava com uma aparência horrível, como se tivesse acabado de voltar de uma batalha.
Logo a compreensão se fez em sua mente, e ela le lembrou de sua derrota para Roland Deschain, mais cedo.
- Mandei que saísse. Preciso falar com você. Assunto sério.
Merry somente o encarou.
- Como deve saber, Roland passou no teste. – Começou. – É um pistoleiro, agora.
 Ela assentiu. E o velho homem prosseguiu.
 - Mas se expôs de forma perigosa. – Ele parou por um momento. – Não entrarei em detalhes com você, mas Steven quer manda-lo para longe de Gilead. E de Marten. E pretende mandar os gusanos, também. Cuthbert e Alain.
- Para onde eles vão? – Perguntou ela, sentindo a parte de trás de seus olhos começarem a queimar e suas cordas vocais darem um nó.
- Vão para Hambry, no baronato de Mejis.
- Que diabos de lugar é esse? – Empertigou-se Merry, em uma inconsciente porém genial imitação de Cort.
- É uma cidade próxima do mar, que se diz fiel à confederação. Pelo que dizem, John Farson ainda não chegou por lá.
- O Homem bom.
- O Homem Bom. – Repetiu Cort. – Steven tem um plano para vocês. Mas contará com mais precisão amanhã pela manhã.
- Um momento, Cort. – Interrompe ela. – O Dihn tem um plano para nós? Como assim?
- Desculpe, não lhe expliquei direito. – Redimiu-se ele. – Irão os quatro. Roland, Cuthbert, Alain e você.
- Mas como...? Por quê?
- Veja, os desígnios de Steven Deschain vão mais além do que você compreende agora. – Explicou. – Além de tirar o filho da mira de Marten, o Dihn pretende realizar um trabalho de sondagem, se é que me entende. E é bom que todos da comitiva tenham o mínimo de preparo.
Merry Smitson ergueu-se e arregalou os olhos, tentando esconder um sorriso repleto de excitação.
- Tecnicamente podemos ter problemas, então...?
Cort assentiu.
- Não me faça questionar a decisão de mandá-la junto. Você foi treinada para estar sempre pronta para problemas, ou não?
- Sim. Sim, sai. – Respondeu, meio envergonhada. – Me perdoe, somente... Acho que me empolguei.
- Não se esqueça, a empolgação leva os tolos para a morte. – Disse o homem. – Olhos e mente de pistoleiro. Frieza em primeiro plano. Enxergue tudo o que puder com clareza e atire depois. Quero que volte viva.
Merry assentiu.
Houve um momento de silêncio.
- Tem algo a saber, ainda. – Recomeçou Cort.
A garota encarou-o novamente.
- Quando você chegou aqui, dentro de uma cesta, relutei em aceita-la. – Começou. – Ninguém a quis, e acabei decidindo por leva-la até Debaria, uma cidade onde seria criada como religiosa, e teria uma vida segura.
- E o que o impediu? – Questionou Merry, erguendo ligeiramente o queixo como se desafiasse o velho treinador.
- Seu sobrenome. Eu devo lhe contar. Esta é a hora. – Respondeu, fingindo que não enxergara a petulância da garota. – Veio escrito em um papel junto à cesta

Merry Allice Smithson 

e eu pensei incessantemente para lembrar onde havia ouvido o nome Smithson.
“O seu nome, Merry, pertenceu a um nobre cavaleiro que cavalgou ao lado de Arthur Eld. Morreu sem herdeiros. Relatos contam como sue sangue se perdeu mas, na minha opinião, por alguma parentela remota, ele ainda corre em suas veias.”
“Se assim for, você e Roland se equiparam.”
Ela arregalou ainda mais os olhos amendoados.
- Como pode ter certeza? – Balbuciou.
- Não tenho. – Respondeu Cort, desconcertado. – A verdade é que nunca saberá. Mas não fica muita dúvida, se pensar no ka lhe trazendo à minha porta. E se lembrar de como você atira.
“Agora vá embora. Vá encontrar sue irmão e ver o que fará nos próximo dias.”
- Sim, Cort. – Ela levantou-se. – Longos dias e belas noites.
- Tudo em dobro, gusana. Tudo em dobro.

...

Àquela manhã levantou-se antes mesmo que o sol desse as casas por cima da borda do horizonte. Assim como Roland há mais ou menos dois dias na cama da puta, aquele fora o último sono tranquilo de sua vida. E o mesmo para seus colegas e seu irmão. 
Só que eles não sabiam.
E, como a expectativa tem um efeito nos jovens semelhante à uma droga alucinógena, ela mal podia esperar para iniciar a “missão”. Na verdade acreditava mais que era uma tarefa para manter o focinho deles longe de confusões mas, mesmo assim, era excitante passar algum tempo longe de casa.
Toda a bagagem feita, Blacksmith celado e carregado, seus revólveres escondidos sob mantas na cela, e a luz que começava a surgir no horizonte. Era hora de partir.
Cuthbert estava chegando, e ela o viu, vestido com uma camisa marrom com a caveirinha de pássaro que carinhosamente chamaram de vigia. O brilho da expectativa nos olhos o deixava ainda mais... Mais... Mais o quê? O que Cuthbert era, para ela? Não se permitiu saber, mas poderia abraça-lo naquele momento.
Roland também já estava lá. E Steven. Kate Johns ao lado de Christopher, aparentemente a única mulher no grupo, além de Merry Allice. E Robert Allgood, que chegara há pouco com seu filho inquieto.
“- Cuthbert, que diabos é isso no sue pescoço? Parece uma caveira de corvo. – Estranhou o Dihn, Steven.”
“- Acertou, sai Deschain. – Respondeu Bert. - Eu o chamo de vigia. É meu melhor amigo, tirando Roland e Alain.” (HQ-Nasce o Pistoleiro, SUMA de Letras.)”
Merry sentiu-se meio mal sendo tirada da lista de “melhores” amigos de Bert, mas o colega lhe lançou um olhar de cumplicidade acerca do novo amigo esquelético que a fez varrer tais pensamentos de sua mente.
“- Robert, seu filho é... – Continuou o pistoleiro alto de tradicionais bigodes compridos. - Singular.”
“- E graças aDeus, Steven. – Respondeu Robert, realmente aliviado. – Se existisse mais de um dele, eu ia querer atirar nos dois.”
“- Por falar em atirar, rapazes, – prosseguiu Steven, incluindo Merry à lista, - é melhor esconderem as armas em suas mantas de dormir. Bem poucos andam armados no Mundo Médio hoje em dia... E vocês não vão querer se denunciar.”
“Decorem seus novos nomes destes documentos pessoais falsos. Não chamem um ao outro pelos nomes verdadeiros a não ser na certeza de estarem sós.”
Steven Deschain foi repassando o plano, detalhe por detalhe e, quando terminou, o dia já estava claro o suficiente para que os garotos não aguentasse mais esperar pela partida.
Merry Deu um abraço em seus pais. Já havia se despedido de Cort antes mas não encontrara Aileen. Queria que a amiga lhe desejasse sorte. E queria dizer que gostaria que ela fosse junto.
Blacksmith, Buckskin, Glue Boy e Rusher foram montados por seus respectivos donos, que iniciaram animadamente a viagem até a cidade de Hambry, no Baronato de Mejis, cavalgando pelo ar fresco da manhã, sem a consciência de entravam no mundo pela primeira vez em suas vidas e dali em até o fim de seus dias

como pistoleiros.

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