terça-feira, 20 de dezembro de 2011

VI

Era uma manhã ensolarada, o dia em que Chistopher Johns levou a filha adotiva à modesta residência de Cort pela primeira vez. Nem o pistoleiro nem sua esposa haviam contado á menina o que iria acontecer, por que de fato não sabiam. Que o garoto, Alain, iria começar o treinamento para pistoleiro um ano mais tarde era do conhecimento de todos, mas o caso de Merry era uma incógnita.

...

- Entre, gusana. – Disse Cort, após o pai da garota ter ido embora.

Merry estava parada à porta da casa, a mesma porta à qual fora deixada cinco anos antes, envergonhada. O vestido azul-claro rendado e a fita nos cabelos destoavam completamente do cenário. Ela começou a adentrar a passos lentos, até chegar perto da cadeira onde o homem grande e estranho estava sentado.

- Me chamou como, sai? – Perguntou a menina, contida.

- Te chamei da forma como chamarei por todos os dias, daqui para frente. – Respondeu. Merry obviamente não entendeu, nem se sentiu ofendida. Levaria algum tempo antes que compreendesse o que Cort dizia.

Olhou ao redor com seus olhos de criança, sentindo estranheza por tudo aquilo que via. Ela não fazia idéia de que futuramente sentiria mais estranheza em um quarto cor-de-rosa e dourado com uma cama de dossel do que em um estábulo, mas enfim, ainda era uma garotinha.

...

Fechou a porta lentamente, para postergar o momento em que encararia aquela criança nos olhos, e caminhou até uma cadeira ao lado de sua mesa, e sentou-se.

-Entre, gusana. – Mandou.

A garota parecia relutante, mas acabou andando em sua direção, e sentando-se na cadeira à sua frente. Os pés dela nem tocavam ao chão, de tão pequena que era ainda.
- Me chamou como, sai? – Ela perguntou.

Uma irritação subiu pelos nervos de Cort. Seria um prenúncio do que teria pela frente? Uma criança dona de si? Resolveu cortar.

- Te chamei da forma como chamarei por todos os dias, daqui para frente. - Respondeu. Ficou com um pouco de remorso depois. Estaria ficando velho? Mas, se tinha alguma intenção de que aquele bolo azul rendado que estava sentado à sua frente se tornasse um (pistoleiro? Pistoleira?) deveria tratá-lo como se fosse um garoto afinal, o treinamento era iniciado com somente um ano a mais do que ela tinha naquele dia.

Houve uns minutos de silêncio, nos quais Merry Smithson esquadrinhou cada centímetro do ambiente em que estavam e ele próprio pensou em como abordaria o assunto.

- Escute – começou. – Você sabe que não é filha dos seus pais, não é?

A garota assentiu.

- Sim.

- E sabe que seu irmão é? E que seu pai é um pistoleiro, e seu irmão também será quando crescer, não sabe?

- Sim, sai Cort. – respondeu a menina, parecendo impaciente. – Mas o que quer dizer com tudo isso?

- Você sabe o que faz um pistoleiro? – Indagou sem dar atenção à pergunta da menina. Pela primeira vez ela pareceu desconcertada.

- Não... Não sei, sai. – Ela baixou os olhos.

Bom! Agora já tinha um parâmetro do quanto ela sabia. Muito ela aprenderia com Vannay futuramente, mas o básico, aquilo que os garotos já sabiam quando chegavam, ela precisava aprender antes.

- Veja, houve um tempo em que um homem guiou o mundo para que se tornasse o que você vê hoje. – Explicou, da maneira mais resumida que conseguiu (e que sua capacidade inventiva lhe permitiu). – Esse homem chamava-se...

- Arthur Eld? – Interrompeu a garota.

- É... Isso mesmo, Arthur Eld. – Respondeu Cort, continuando e tentando esconder a irritação por ter sido interrompido. – Ele foi o primeiro a carregar revólveres pelo... Pelo mundo. Os descendentes do Eld e de seus cavaleiros continuam mantendo as tradições e honrando o seu juramento de proteger... Proteger - ele frisou bem as palavras seguintes – a ordem das coisas.

Merry Smithson olhava interessadamente enquanto seu interlocutor feio e careca discorria sobre o Eld e os pistoleiros.

- Tem um bom tempo já, qualquer criança, qualquer garoto que prometa algum talento pode iniciar o treinamento de pistoleiro e mudar sua posição na sociedade. Não é mais necessário que a criança seja filha de um pistoleiro, de um nobre. Existem famílias de cavalariços ou camponeses que tem seus filhos adotados por pistoleiros até que tenham idade suficiente para iniciar o treinamento.

- Eu posso ser pistoleira então, sai Cort?

Essa pergunta adensou o ar dentro da casa. Ainda não era possível explicar a ela; antes deveria tomar conhecimento do significado do Branco, das palavras Ka, Khef e Ka-tet... E isso significava crescer mais um pouco.

- Não, você não pode. – Não podia fazê-la criar expectativas. – Mas eu vou ensiná-la tudo o que puder sobre a história dos pistoleiros e, quando eu achar que está pronta, lhe explicarei o motivo.

Um comentário:

  1. poxa, que lindo *-*
    to falando assim porque to ansiosa kk
    mas tá demais, Mel, sério, não vejo a hora de ver o que vai acontecer mais pra frente. Parabéns!

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