sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

VII

Segundo o que entendera, deveria estudar algumas coisas durante aquele ano. Na verdade, queria brincar. Brincar com seu irmão, que tinha a mesma idade, e com os amigos de seu irmão, com quem nunca trocara mais de alguma saudação educada.

No entanto, sai Cort advertira seu pai de que deveria aprender a ler antes de ter aulas com o outro mestre, Vannay, pelo que entendera. Deveria começar a ler antes que completasse seis anos, só não entendia por que. Sai Cort parecia meio desconcertado quando ela perguntava, mas ele realmente não sabia a resposta.

Isso a pequena Merry Smithson não sabia, mas se algum adulto perguntasse (e talvez Christopher Johns tenha perguntado) Cort responderia que ela deveria estar adiantada em algumas coisas quando se deparasse com os garotos. Mas, se ainda assim, quem perguntou não estivesse satisfeito por completo e perguntasse por que Cort queria que ela estivesse preparada, ele não saberia a resposta.

Pensou por anos sobre isso para responder a si mesmo e acabou deixando que a roda rodasse e que as coisas fossem distribuídas em seus devidos lugares a seus devidos tempos.

Além do quê, uma garota capaz de ler pode aprender histórias por si própria e não precisa que alguém (no caso ele) as conte. Kathleen Johns estava cuidando dessa parte, ensinando a filha adotiva a ler, e teve certo êxito na tarefa, mas não o suficiente para que ela saísse lendo aos seis anos.

Era uma manhã de sol na qual muitas crianças esperavam no grande jardim gramado, que era verde e bonito como tudo ainda era em um mundo que ainda não seguira adiante,por mais um dia de aula normal com o velho e sábio mestre. Nunca sabiam se seriam convidados a entrar ou se a aula seria no jardim, à sombra de alguma das árvores antigas.

Merry Smithson já tinha uns nove anos a esta altura, assim como seu irmão, Alain, e os novos amigos, Roland Deschain, filho do Dihn de Gilead e Cuthbert Allgood, um menino engraçado, que só começara a falar com ela quando descobriu que ela não iria para o campo de treinamento de Cort junto com eles.

Ambos, tanto Roland, estranho e quieto, quanto Cuthbert, incansavelmente bobo, eram aquele tipo de pessoa levemente especial, de quem você quer ser amigo ou no mínimo arrancar uma risada, e pareciam não ter consciência de que, após certa idade (especialmente no final da adolescência) uma menina como ela poderia fazer o que quisesse com qualquer um deles. As garotas tinham poderes que eles nunca teriam. Eram perigosas e dominadoras, como um John Farson com peitos.

A princípio todos os garotos lá estranharam a presença de Merry nas aulas de Vannay, mas logo se acostumaram. Ela mal falava, somente ouvia, muito atenta. As dificuldades começaram com aquela idade exata, nove anos; tinha amor incondicional de seu irmão, mas não tinha amizade muito profunda com os garotos com quem ele se relacionava, era algo pouco mais do que a simples cordialidade, pouco. Não tinha amigas garotas, pois estava sempre estudando.

Abel Vannay palestrava sobre muitas coisas, história entre elas, e era realmente empolgante. Quando os garotos iam para as aulas de tiro e falcoaria e ela não, ficava muito frustrada. Com os anos ela compreendeu a resposta de sai Cort, para a pergunta que fizera um dia: “Não,você não pode.” Foi o que ele respondeu. Obviamente por que ela era uma menina, e meninas não podem atirar, meninas não podem ser pistoleiras, apalavra pistoleira de fato nem existia.

Por que, diabos, a fizeram engolir histórias sobre o Eld, sobre Excalibur, sobre os pistoleiros e o Branco? Por quê? Ela era uma garota, sem amigas, sem amigos, e obviamente aqueles valores e ensinamentos não era o que precisava para arrumar um casamento quando crescesse. Por que a incentivaram a desejar algo que nunca teria?

Vannay convidou-os para dentro, e eles entraram para mais uma das aulas. Enquanto isso, naquela mesma manhã, um outro homem responsável pela forja dos novos pistoleiros pensava muito seriamente sobre esses assuntos que afligiam a garota Smithson, mesmo sem ela ter dito nada.

Khef? Não. Ela só viria a ter um ka-tet durante toda sua vida. Aquilo que havia entre ela e Cort era algo mais como pai e filha, apesar do jeito rude e tosco (que o tempo ainda não acentuara por completo), Cort vinha sendo mais presente em sua vida do que o próprio Christopher Johns.

2 comentários:

  1. Que bom! Uma nova parte em sua Fan Fic! Eu tenho certeza que Cort ama e vê a menina como uma filha, mas o jeito casca grossa dele e sua função não permitem ternunar ou gestos de afeição em demasia.

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  2. Aaah *---*
    Poxa, ela tem que ser pistoleira também, tá no sangue kk
    tá lindo, Mel, continua *--*

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